segunda-feira, 8 de março de 2010

Quanta Saudade!!!

> Pena que haja tanta gente jovem que não fez nem fará esta experiência.. .
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> Uma saudade !
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> Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo
> a pé. Geralmente, à noite.

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
> - Olha o compadre aqui, garoto!
> Cumprimenta a comadre.
> E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos.
> Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.. .
> - Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
>
> A conversa rolava solta na sala.
> Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando- nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
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> Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha - geralmente uma das filhas – e dizia:
> - Gente, vem aqui pra dentro que o
> café está na mesa.
>
> Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.
> Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.
> Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
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> Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos... E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.
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> Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa..
> A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.
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> O tempo passou e me formei em solidão.
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> Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail...
> Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
> - Vamos marcar uma saída!... - ninguém quer entrar mais.
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> Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e
> fantasmas mais assustados que assustadores.
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> Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...
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> Que saudade do compadre e da comadre!

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